
Dieta para Refluxo: Alimentos Permitidos e o que Evitar
O refluxo gastroesofágico é uma condição que afeta uma parte significativa da população e pode impactar seriamente a qualidade de vida dos pacientes. A sensação de queimação no peito, conhecida popularmente como azia, a regurgitação ácida e sintomas respiratórios, como tosse noturna, rouquidão e dor de garganta, estão entre as queixas mais comuns. Para o nutricionista, é fundamental compreender a fisiopatologia, os fatores desencadeantes e, principalmente, como a alimentação pode influenciar os sintomas, a fim de elaborar estratégias seguras e personalizadas.
Este artigo tem como objetivo discutir as recomendações para uma dieta adequada a pessoas com refluxo, apresentar um cardápio sugestivo, listar alimentos geralmente mais seguros e os que costumam desencadear sintomas, além de responder a algumas dúvidas frequentes sobre o consumo de leite, ovos e banana nesse contexto. Também será abordado o manejo nutricional na dieta para esofagite, uma complicação comum da doença. É importante ressaltar que este conteúdo é educativo e não substitui a avaliação individualizada; o paciente deve sempre ser orientado a buscar atendimento nutricional especializado.
O que Deve Ter numa Dieta para Quem Tem Refluxo
A base da terapia nutricional para refluxo envolve reduzir a exposição da mucosa esofágica ao conteúdo ácido e, quando possível, aumentar a pressão do esfíncter esofágico inferior (EEI), responsável por evitar o retorno do alimento do estômago. Algumas estratégias principais incluem:
- Energia e peso corporal: Pacientes com sobrepeso ou obesidade devem focar na perda de peso, pois a pressão intra-abdominal elevada pode favorecer o refluxo. A ingestão de energia deve ser suficiente para manter um peso saudável.
- Consistência: Durante fases agudas, recomenda-se iniciar com uma dieta líquida ou semilíquida, progredindo conforme a melhora dos sintomas.
- Lipídios: A dieta deve ser hipolipídica (menos de 20% do valor energético total), pois a gordura estimula a secreção de colecistocinina (CCK), que reduz a pressão do EEI.
- Fracionamento: Dividir a alimentação em 6 a 8 refeições de pequeno volume previne a sobrecarga gástrica e diminui os episódios de refluxo.
- Líquidos: Dar preferência para líquidos entre as refeições, evitando grandes volumes durante o almoço e o jantar.
- Postura e rotina: É importante não se deitar após as refeições, esperar pelo menos 2 a 3 horas antes de dormir, evitar roupas apertadas e, em casos noturnos, elevar a cabeceira da cama. Essas medidas simples podem proporcionar grande melhora em muitos pacientes, mas devem ser adaptadas conforme a tolerância individual.
Cardápio para Quem Tem Refluxo
Um cardápio para refluxo deve priorizar alimentos de fácil digestão, baixo teor de gordura e baixa acidez. Não é necessário seguir restrições rigorosas, mas um modelo qualitativo pode ser útil. Um exemplo de cardápio poderia incluir:
- Café da manhã: Tapioca com creme de ricota, uma fruta não ácida (como banana madura, pera ou maçã cozida sem casca) e chá de camomila.
- Lanche da manhã: Iogurte natural sem açúcar com pedaços de pera cozida ou banana com aveia em flocos finos.
- Almoço: Arroz integral, batata ou inhame, frango grelhado ou peixe assado e legumes cozidos (como chuchu, abobrinha e cenoura).
- Lanche da tarde: Mingau de aveia com banana ou biscoito de arroz com pasta de atum e uma fruta.
- Jantar: Sopa de legumes com frango desfiado ou peixe e purê de mandioquinha.
- Ceia: Chá de erva-doce e maçã cozida sem casca.
Esse cardápio serve como ponto de partida e pode ser ajustado conforme as preferências e intolerâncias individuais.
Café da Manhã para Quem Tem Refluxo
O café da manhã gera muitas dúvidas entre pacientes com refluxo. Combinações como café preto, pão com manteiga ou suco de laranja podem desencadear sintomas. Boas escolhas incluem:
- Pães macios (preferencialmente integrais, mas sem sementes duras).
- Tapioca simples, possivelmente recheada com frango desfiado ou ovo mexido leve.
- Frutas não ácidas, como banana madura, mamão ou pera.
- Bebidas como chá de camomila, erva-doce ou leite desnatado, quando tolerado.
- Preparações suaves, como mingau de aveia ou crepioca.
Devem ser evitados: café preto em jejum, frutas cítricas, alimentos ultraprocessados e preparações gordurosas.
Alimentos que Desencadeiam os Sintomas do Refluxo
Embora a tolerância seja individual, alguns grupos de alimentos têm maior probabilidade de desencadear sintomas de refluxo. Esses incluem:
- Café, chá preto, mate e outras bebidas com cafeína.
- Refrigerantes e bebidas alcoólicas.
- Chocolate, que contém teobromina e reduz a pressão do EEI.
- Frituras, fast food e alimentos muito gordurosos.
- Molhos de tomate e frutas cítricas.
- Alimentos condimentados e picantes.
- Cebola e alho crus.
- Hortelã e alimentos com alto teor de mentol.
É importante notar que nem todos os pacientes reagem da mesma forma a todos os itens, e registrar um diário alimentar pode ajudar a identificar gatilhos individuais.
Leite Faz Mal para Refluxo?
A relação entre o leite e os laticínios no refluxo gastroesofágico é motivo de debate. Em crianças, diferenciar refluxo fisiológico, doença do refluxo e alergia à proteína do leite é desafiador. Em adultos, a relação entre o consumo de leite e os sintomas de refluxo é controversa. Alguns estudos não encontraram diferença significativa entre laticínios integrais e com baixo teor de gordura em relação a sintomas de azia e regurgitação. Por outro lado, outros estudos sugerem que o consumo de laticínios pode estar associado a maior ocorrência de refluxo em algumas populações. No entanto, a evidência científica é inconsistente, e a resposta é altamente individual. Portanto, o consumo de leite deve ser avaliado caso a caso, considerando sintomas e possíveis intolerâncias.
Quem Tem Refluxo Pode Comer Ovo?
A relação entre o consumo de ovos e a doença do refluxo ainda é incerta. Um ovo é um alimento de alto valor biológico e pode ser incluído em um plano alimentar, desde que preparado de forma leve, como cozido ou mexido com pouca gordura. Preparações fritas ou muito gordurosas devem ser evitadas, pois a gordura pode reduzir a pressão do EEI, favorecendo o refluxo. Assim, o consumo de ovo deve ser avaliado individualmente, levando em conta tanto os benefícios nutricionais quanto a resposta clínica do paciente.
Banana Faz Mal para Refluxo?
Estudos mostraram que a banana possui compostos que podem proteger a mucosa gástrica. Na prática clínica, a banana madura é geralmente bem tolerada por pacientes com refluxo, embora algumas pessoas possam ter desconforto com a banana verde. Portanto, a avaliação da tolerância individual é essencial.
Dieta para Esofagite
A esofagite, que é a inflamação da mucosa esofágica, geralmente relacionada ao refluxo crônico, requer um manejo mais cauteloso. Recomendações incluem:
- Manter uma alimentação hipolipídica, com consistência pastosa ou macia em fases de dor ou disfagia.
- Restringir alimentos irritantes, como cítricos, tomate, pimentas, refrigerantes, café e álcool.
- Evitar carnes gordurosas e preparações fritas.
- Optar por refeições pequenas e frequentes.
- Incluir frutas cozidas, sopas, purês e preparações leves.
O acompanhamento nutricional é fundamental para ajustar nutrientes e prevenir deficiências, pois muitas restrições podem ser necessárias em fases agudas.
Considerações Finais
O manejo dietético do refluxo deve ser individualizado. O que pode ser um gatilho para alguns, pode ser bem tolerado por outros. O papel do nutricionista é observar, testar, registrar e adaptar as orientações. Em resumo:
- O cardápio deve priorizar alimentos leves, pouco gordurosos e não ácidos.
- O café da manhã pode ser variado, mas deve evitar café preto e frutas cítricas.
- Os alimentos que podem desencadear sintomas incluem café, chocolate, frituras, bebidas alcoólicas e refrigerantes.
- A dúvida sobre o leite depende da tolerância individual, sendo o desnatado geralmente mais seguro.
- Quem tem refluxo pode consumir ovos, desde que em preparações leves.
- A banana, na maioria das vezes, é uma boa escolha.
- A dieta para esofagite deve ser ainda mais protetora, com consistências macias e restrição de alimentos irritantes.
O acompanhamento nutricional personalizado é indispensável para promover uma educação alimentar e mudanças de estilo de vida que podem reduzir a frequência das crises, melhorar o bem-estar e prevenir complicações futuras.
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Observação Importante: As informações aqui apresentadas não substituem a avaliação ou o acompanhamento profissional. Sempre consulte um médico ou especialista em saúde para orientações personalizadas.
